Ignácio Rangel (1914-1994)

Ignácio Rangel (1914-1994)

Ignácio Rangel

Ignácio Rangel

* Extratos diversos

Ignácio Rangel Mourão (Mirador, Maranhão, 20 de fevereiro de 1914 — Rio de Janeiro, 4 de março de 1994) foi um economista brasileiro. Ocupou a cadeira nº 26 da Academia Maranhense de Letras. Foi provavelmente o mais original analista do desenvolvimento econômico brasileiro. Apenas Celso Furtado tem uma contribuição comparável na análise da dinâmica de nossa economia. Em 1953, além de trabalhar intensamente na assessoria de Getúlio Vargas, Rangel escreve seu primeiro livro, A Dualidade Básica da Economia Brasileira, publicado em 1957.

Bacharel em direito, fez-se formalmente economista no ano de 1954 após curso pela CEPAL, tendo defendido tese sob o título de El Desarollo Económico en Brasil. Seu contato, ainda adolescente, com as obras de Marx e Engels o levou a militar no Partido Comunista do Brasil (PCB) e atuar na Aliança Nacional Libertadora (ALN), tendo sido preso durante confronto para a implantação do governo revolucionário, em 1935, no comando de 200 camponeses em armas no sertão maranhense. Foi solto em 1937. Desde então, aprofundou seus estudos nos mais variados campos do conhecimento, principalmente em economia. Na prisão, na busca das causas da derrota de 1935, passou a construir uma crítica aguda as orientações do PCB, sendo a principal delas à referente ao estabelecimento da reforma agrária como condição indispensável à industrialização do país. Aos poucos, essa profunda divergência ideológica vai afastando-o do PCB. O processo de afastamento do PCB, coincidentemente, foi marcado pelo inicio de sua produção intelectual com a publicação de um número expressivo de artigos acerca da realidade econômica e social do Brasil.

Sua crescente influência intelectual o credenciou a trabalhar, em 1952, na assessoria econômica do governo de Getúlio Vargas, onde foi principal mentor dos projetos que desembocaram na criação de grandes empresas estatais, sendo a principal delas a PETROBRÁS. Em 1955 com a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), Rangel passa a integrar seu quadro funcional, acumulando mais tarde a coordenação do Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek. A partir da segnda metade da década de 1950, ao lado de intelectuais de renome como Nelson Werneck Sodré e Hélio Jaguaribe ajudou a formar o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), onde ocupou a cátedra da cadeira de economia. Esta experiência no centro da burocracia estatal brasileira proporcionou-lhe uma vasta experiência técnica e o auxiliou a fornecer subsídios à sua original visão da formação social brasileira a partir do desenvolvimento de modos de produção complexos ou duais. Em 1991 foi eleito membro da Academia Maranhense de Letras.

Ignácio Rangel viveu intensamente a eclosão e a primeira etapa das transformações da segunda revolução industrial no Brasil, com o aparelhamento do governo central como condutor desse processo, e com sua subsequente crise, diante das contradições suscitadas pela expansão do capital monopolista. Marxista de formação, Rangel deixou importantes contribuições à explicação da questão agrária e da inflação no Brasil, relacionando ambas com necessidades estratégicas do capital. Registrou, também, uma contribuição significativa com relação a projetos de investimento, que tratou como parte do referencial geral do planejamento. O trabalho de Rangel correspondeu ao momento em que mudava a posição do Brasil no cenário internacional. Profundamente brasileiro, moveu-se com grande independência frente aos dogmas de sua época.

Marx, Engels e Lênin foram as principais referências teóricas de Ignácio Rangel. Porém, a adoção do materialismo histórico como base de sua trajetória intelectual não o impediu de trabalhar com autores como Adam Smith, J. Schumpeter e J. M. Keynes. Do ponto de vista político, Rangel se posicionava no campo do marxismo-leninismo tingido com fortes posições nacionalistas e desenvolvimentistas.

O fio condutor de sua obra é a sua tese da dualidade. Trata-se de uma engenhosa construção analítica que articula contribuições do materialismo histórico marxista, de Smith, de Keynes, da teoria dos ciclos e das crises de Kondratieff e Juglar à formação econômica brasileira, no intuito de entender sua dinâmica e especificidades.

A partir da tese da dualidade, para efeitos analíticos, são classificados em outras quatro as grandes teses de Rangel, expressões de suas interpretações sobre a economia brasileira, a teoria econômica e o desenvolvimento econômico, social e político: 1) sobre a Dinâmica Capitalista, que articula as teorias dos ciclos, das crises e a questão tecnológica ao movimento da economia brasileira e mundial; 2) a tese da Inflação Brasileira, contida em seu famoso livro do mesmo nome, transformada, pela sua densidade analítica, nível de formulação e grau de universalidade em uma verdadeira teoria da inflação, feito inigualável na história do pensamento econômico brasileiro; 3) acerca da Questão Agrária, onde altamente influenciado por Lênin, interpreta os determinantes da crise agrária brasileira e suas conseqüências para o desenvolvimento do capitalismo no Brasil e 4) sobre a Intervenção do Estado e Planejamento, onde analisa o valor do planejamento do setor público como fator de equilíbrio econômico global e de redução de ociosidades setoriais na economia, campo este o qual se vale para demonstrar o significado positivo de um vigoroso sistema financeiro, mobilizador de recursos ociosos para os setores produtivos, com ênfase nos investimentos em serviços de utilidade pública e infra-estrutura.

Referências:

PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. RÊGO, José Marcio. Um Mestre da economia brasileira: Ignácio Rangel. Disponível em: http://www.rep.org.br/pdf/50-6.pdf

PEDRÃO, Fernando Cardoso. “Ignácio Rangel”- Estudos Avançados, Vol.15, No.41, São Paulo, Jan./Apr. 2001. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142001000100011

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